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Sediar uma Olimpíada é a chance de ouro para qualquer cidade ou país mostrar para o mundo o que a sua cultura e identidade têm de melhor. Mas, no caso dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, a crise política, os escândalos de corrupção e problemas de infraestrutura e comunicação acabaram ofuscando esse potencial.

 

 

É o que revela um estudo inédito feito por pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, em parceria com a Universidade de São Paulo e com a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). O grupo analisou 331 reportagens publicadas em revistas e jornais brasileiros e outras 144, em veículos de imprensa britânicos.

 

A conclusão: o saldo final da imagem da Rio-2016 veiculada, sobretudo, na imprensa brasileira é negativo. Segundo Beatriz García, coordenadora da pesquisa e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), os problemas em torno das instalações olímpicas se tornaram, praticamente, a “única história para contar” após os Jogos.

 

De um total de 17 reportagens publicadas por veículos do Brasil sobre o tema em 2017, 13 apresentavam um viés negativo seja por mostrar a conexão do evento com escândalos de corrupção ou problemas de infraestrutura.

 

García admite que o contexto social, político e econômico do Brasil colaborou para esse tipo de abordagem — mas, segundo ela, falhas no planejamento de comunicação sobre os aspectos que vão além da competição também explicam o fenômeno. Veja trechos da entrevista que a pesquisadora, que também é chefe do Instituto de Capital Cultural da Universidade de Liverpool, concedeu a EXAME.com por e-mail.

 

O estudo afirma que o saldo final das Olimpíadas para o Brasil em termos de imagem foi negativo. Em que erramos?

Beatriz García: O saldo negativo em termos de “imagem” se deve ao domínio quase absoluto de artigos dedicados a discutir o declínio imediato do Parque Olímpico e das instalações olímpicas na Barra de Tijuca. Esse foco domina a cobertura da mídia em cada edição dos Jogos uma vez que é um problema comum. Mas, no caso do Rio, se tornou praticamente a única história a contar assim que os Jogos terminaram.

Evidentemente, as disputas políticas no Brasil e os acentuados problemas econômicos do Rio contribuíram para essa associação negativa com o legado do Jogos (em contraste com a cobertura positiva e comemorativa das duas semanas de esporte e da cerimônia de abertura, que foi considerada um sucesso imediato).

A grande falha da organização da Rio-2016 foi não ter uma estratégia de comunicação mais sofisticada para explicar a dimensão cultural dos Jogos (além das competições) e a falta de apoio para o programa cultural oficial — o Celebra, que não foi tratado como uma parte importante da narrativa (ou da programação) da Rio-2016.

 

Além da crise política, podemos dizer que houve erros de planejamento na gestão cultural da Olimpíada do Rio?

Sim, houve erros significativos de planejamento. O programa cultural não teve a infraestrutura necessária, nem um programa de comunicação claro. Houve pouca coordenação das atividades culturais, não se organizou uma boa colaboração com outras cidades importantes do Brasil, como São Paulo ou Bahia.

Também é importante lembrar que os Jogos poderiam ter sido apresentados de uma maneira mais potente como os Jogos da América Latina. Apesar de isso fazer parte da visão inicial, não se organizou um programa ou uma narrativa no nível continental – e isso foi uma falha no planejamento.

 

Por que o capital cultural é tão importante para uma cidade? O Rio perdeu uma oportunidade?

O capital cultural é essencial, é o que dá sentido à história e à identidade de uma cidade. O capital cultural do Rio é muito rico, diversificado e profundo, e vai muito além do turismo, que é conhecido internacionalmente. Com os Jogos Olímpicos, o Rio teve uma grande oportunidade para explicar a riqueza da cultura carioca – e brasileira. O programa Celebra tinha esse objetivo, mas foi uma oportunidade perdida.

As atividades no Boulevard Olímpico (especialmente no Porto Maravilha) foram muito bem-sucedidas e conseguiram muita atenção da mídia local durante os Jogos. A transformação do centro do Rio e a nova utilização desse espaço público é um legado cultural real. No entanto, essa história não tem sido contada pela imprensa internacional, nem é associada como um exemplo de sucesso.

 

Se, para os organizadores, a estrutura física para os Jogos é uma prioridade, como a Agenda Olímpica 2020 [que prevê Olimpíadas mais sustentáveis e baratas] pode mudar essa lógica?

Dando mais ênfase ao valor simbólico e para programa cultural oficial como peça fundamental para o legado dos Jogos no longo prazo. É o contexto cultural das Olimpíadas que contribui para gerar orgulho de longo prazo, identidade e memória sobre cada edição das Olimpíadas, como algo único que não poderia acontecer em qualquer outro lugar.

 


Fonte: Exame

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