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Atitude
Conhecidos como ‘’Clube Bangue Bangue’’, os fotógrafos de guerra Greg Marinovich, Ken Oosterbroeck, João Silva e Kevin Carter, conviviam com os conflitos, miséria, sofrimentos, de diferentes povos pelo mundo. Suas armas eram as máquinas fotográficas e sua proteção era a sorte de não serem atingidos por balas, pedras, bombas e todo tipo de coisa que se possa imaginar.

 

 

Coragem, uma palavra que está presente a cada captura de uma imagem, e principalmente na hora de se defender dos desastres, tanto físico como psicológicos. Os desastres psicológicos se tornam mais perigosos do que os físicos por às vezes não serem captados logo de cara e sim devido a um processo de armazenamento de muitas informações que mechem com a cabeça do ser humano, que se encontra em constante questionamento devido a tantos ocorridos a sua volta, podendo deixar marcas profundas. Por exemplo, no caso de Kevin Carter, que em 1994, no Sudão, no período da Apartheid, que se tratou de uma política racial implantada na África do Sul que não permitia o acesso dos negros às urnas e os proibia de adquirir terras na maior parte do país, obrigando-os a viver em zonas residenciais segregadas, uma espécie de confinamento geográfico, após sua fotografia da criança e o urubu, que ganhou o prêmio Pullitzer, que é o título mais importante concedido ao jornalismo norte-americano pela Universidade de Columbia, Nova Iorque, é entregue aos profissionais que se destacam nos campos do jornalismo, da literatura e da música, instituído em 1917, após a morte de seu criador, Joseph Pullitzer, jornalista e editor de grande sucesso nos Estados Unidos.

Ao ser pressionado pela mídia e por outros jornalistas de outros ramos, com a questão de não ter ajudado a criança, apenas tendo espantado o urubu, foi criticado e colocado como desumano, fazendo com que sua cabeça ficasse tão abalada que o fez abusar das drogas, da bebida, do álcool, levando-o ao suicídio, em 27 de julho. Levou seu carro até o local de sua infância e com uma mangueira de escape colocou a fumaça para dentro do carro, morrendo envenenado por monóxido de carbono aos 33 anos de idade.

Esse jovem absorveu uma carga tão grande de críticas negativas, atribuídas ao conceito social de que se deve ajudar a quem precisa, independentemente de se tratar de um trabalho ou não, fazendo-o reagir de uma maneira radical. Evidenciasse o nível de desequilíbrio emocional de Kevin em partes da nota de suicídio em que Carter dizia: ‘’ Estou deprimido... Sem telefone... Sem dinheiro para o aluguel... Sem dinheiro para ajudar as crianças... Sem dinheiro para as dívidas... Dívidas... Dinheiro! Sou perseguido pela viva lembrança de assassinatos, cadáveres raiva e dor... Pelas crianças feridas e famintas... Pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos... Se eu tiver sorte, vou me juntar ao Ken... ’’.

Seus companheiros receberam a notícia do suicídio com grande irritação e passaram a defender Carter ao público, ressaltando seu profissionalismo e tentando explicar mais uma vez a ocasião da foto. Segundo eles, os fotógrafos recebiam a recomendação para não tocar pessoas na África, sob o risco de contágio. Isso nos mostra que a falta de conhecimento social leva aos indivíduos a tomarem conclusões precipitadas, como foi apresentado acima levou a morte de Carter.

Já as marcas físicas, como no caso de Greg Marinovich, que ao longo de sua carreira levou três tiros e sobreviveu. Marcas que irão permanecer para o resto de sua vida em seu corpo, embora estas marcas estejam presentes, as que irão se sobressair são as imagens que ele presenciou as perdas, incluindo a do companheiro do grupo Ken Oosterbroeck, que foi baleado e não resistiu, nesse mesmo dia Greg também tinha levado um tiro, mas ao contrário de Ken resistiu ao ferimento.

Perdas e ganhos, que são necessários, infelizmente enquanto houver catástrofes sociais existirão pessoas encarregadas de transmitir a informação à sociedade, se mantendo firme para que não ocorra como com Kevin Carter, que disponibilizou sua vida a mostrar de forma transparente todos os tipos de sentimentos através da sensibilidade de uma fotografia e foi massacrado pela sociedade por não poder fazer o que a sociedade diz lutar a favor, mas se pararmos para pensar é justamente pelos atos de uma sociedade desequilibrada e que busca alimentar seus próprios ideais e valores políticos e econômicos que sempre estão acoplados ao mundo considerado moderno, que a cada dia parece retroceder aos velhos hábitos, só falta voltarmos a Idade Média período da sociedade feudal, dividida em clero, nobreza e servos.

Acredito que ao menos uma vez fotógrafos, e não somente os fotógrafos, todos os que trabalham na área de transmitir informação, alguma ideia, mesmo que louca, de se autodestruir por conviverem com o lado do mundo que muitos procuram evitar, enquanto uns evitam outros se jogam na linha de frente da batalha e se apresentam para lutar por um lugar justo. Infelizmente entra a utopia, esta presente no cotidiano dos seres humanos, já que é impossível, pelo menos creio eu que seja, de existir apenas o lado bom, correto, coerente, eficaz e por ai em diante, já que as pessoas se tornaram indiferentes acerca das mudanças sociais, os poucos que lutam acabam sendo massacrados pela má influencia da modernidade, as fotografias falam por aqueles que não têm voz para gritar, são a expressão da arte sem palavras que falam por si só e que trazem à tona a consciência humana, que muitas vezes deixa de ser usada, são para mostrar que existem circunstâncias que são inimagináveis por aqueles que vivem bem, ou acham que vivem bem, isso porque sempre falta algo, nada é realmente perfeito, posso incluir uma frase de um autor desconhecido que diz: ‘’A fotografia, antes de tudo é um testemunho. Quando se aponta a câmera para algum objeto ou sujeito, constrói-se um significado. Faz-se uma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história, cabe a nós, espectadores, o imenso desafio de lê-las’’.

Por fim, a história de quatro fotógrafos é a realidade de muitos e o futuro de muitos outros, que são e virá para contar a história daqueles que precisam ser história, a nossa história, o tempo não volta e nem para, porém ele sempre segue e o seu rumo, pode ser alterado e gerar histórias contadas por fleches e olhos sensíveis que através de uma lente abrem portas para diversas realidades, cabe a nós escolher qual interpretar e dividir com o mundo.

 

 

Beatriz Corrêa
http://beeacorrea.blogspot.com.br/

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